O BOSQUE ANIMADO

 (...) As árvores exercitam distrações, tão inocentes quanto elas mesmas, que não conhecem o mal. Gostam especialmente de cantar e cantam em coro as poucas canções que conseguiram compor. Como todas as plantas, amam intensamente a água e para elogiá-la dedicam as suas melhores sinfonias, que são duas e tu podes ouvi-las em todas as florestas do mundo: uma imita o barulho da chuva nos galhos e a outra copia o murmúrio da um mar distante. Em algum momento, na escuridão de um bosque, terás sido surpreendido pelo som de um aguaceiro que, a princípio distante, se aproxima até passar por cima da tua cabeça; olhas para o céu através dos interstícios da vegetação, e ele é limpo e azul: nem uma gota desce para humedecer a terra, mas o som continua e se afasta e retorna... Se observas os galhos, verás as folhas termer como a garganta de um cantor. As árvores começaram seu coro. (...)

Wenceslao F. Flórez, 1943, A floresta animada

Notas do programa

“O Bosque Animado”, com esse nome bem “infantil”, Andrés Álvarez dá música a este trabalho para banda, baseado no livro homónimo de Wenceslao Fernández Flórez. Talvez esta seja a obra mais elaborada internamente do catálogo do compositor. Com simulações de animais e elementos auditivos da natureza, claramente identificáveis, tanto no primeiro como no terceiro andamento, nem é preciso ler o título para que corresponda a algumas fragas. Dos três andamentos que compõem esta grande obra, o mais importante é o segundo andamento, a noite escura, que com as suas sombras proporciona, se possível, maior luz aos outros dois, anteriormente mencionados.

Composta em 2011 por encomenda do Conservatório Profissional de Música de Vigo, seria posteriormente gravada em CD. Muito importante aqui é a ideia de música programática, com pequenos sonso que procuram criar efeitos da natureza. Desta forma, o público ouvinte desfrutará de um momento em “La Fraga de Cecebre”, em que se tornará noite por um momento, no segundo andamento, para que volte a chegar a luz de um novo dia.